sábado, 12 de janeiro de 2013

12 de Janeiro


Ascensão ao Trono de Muniza I, talvez o Único

A primeira vez que falou disse:

- Vocês não existem.

Seu sétimo discípulo lhe atribuiu o nome, do uzbeque Mhuhh-neiz-zkahi, aquele –que-não-tem-significado, embora seja difícil decifrar a ligação desse nome com um homem sem memória.

Muniza tinha menos que memória. Não veio de fronteira alguma. Suas maneiras não eram nem delicadas nem hostis, senão de indiferença.

Riram. Alguns bateram nele. Mas à força dele insistir, souberam aos poucos sua filosofia. Muniza acreditava que só ele existia. O mundo era uma ilusão criada por algum daimon para arrancar-lhe certo segredo primordial, o qual ele não poderia entregar pois nem ele sabia qual era.

Por absurda que fosse, e talvez por isso, a doutrina teve adeptos, ou não exatamente adeptos – outras pessoas que acreditaram que cada um deles era o Centro Do Universo, e nenhum dos demais existia. De sete, seus adeptos passaram a setecentos, e destes a dezessete e setecentos mil, muitos com espadas à cintura. Temeroso, o Xamã cedeu a esse exército que na verdade era de um homem só, pois todos se acreditavam o único.

Muniza governou quatro dias com bondade e três dias com maldade e na noite do oitavo dia o cavalo corcoveou e lhe partiu o pescoço quando ele cavalgava para o distrito das meretrizes. E isso também foi considerado uma ilusão por seus adeptos, que apesar de tudo deram-lhe o número póstumo de “I”, quando ele só poderia ser o Único.

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