quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

16 de Janeiro


Criação do Mercado de Samarcanda

Abdulloh ainda não ganhara o apelido de o-contador-de-histórias-de-triste-fim e sua barba negra já passara de uma braça quando se meteu a contar a história do mercado onde ganhava suas moedas.

 Como sempre, três círculos de gente se reuniram à sua volta. Estabeleceu uma data, dia 20 do mês Safar (16 de janeiro) e criou um cara, a quem chamou de Temurbek, o qual, vendo que os homens se aborreciam com uma alimentação monótona, inventou uma pedra sobre a qual todos se encontrariam regularmente, e se divertiriam e poderiam trocar tâmaras por trigo, vinho por centeio.  E todos ficaram felizes e o chamaram herói.

Terminava a história de Temurbek para o seu criador. Mas não para outros. O povo a recontava e de mercador Temurbek passou a curador de leprosos, de velhote a jovem de trezentas amantes e de simples a guerreiro de lança. Não haveria problema se um par de meses antes o sobrinho do Xeque não o tivesse envenenado. Esse sobrinho (de cujo nome original apagou os registros) passou a apresentar-se como Temurbek, descendente direto do primeiro. A multidão primeiro por medo depois por costume passou a vê-lo belo e heroico e xamã.

Voltando de feiras do Golfo, Abdulloh não sem imprudência se meteu a negar que Temurbek tivesse existido. Que era uma invenção sua e as glórias lhe eram devidas.

Desapareceu a duas léguas da cidade e poucos duvidaram que os dois Temurbeks, o herói e o atual, não tivessem a ver com isso.

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