Criação do Mercado de
Samarcanda
Abdulloh ainda não ganhara o apelido de o-contador-de-histórias-de-triste-fim e sua barba negra já passara de
uma braça quando se meteu a contar a história do mercado onde ganhava suas moedas.
Como sempre, três círculos
de gente se reuniram à sua volta. Estabeleceu uma data, dia 20 do mês Safar (16
de janeiro) e criou um cara, a quem chamou de Temurbek, o qual, vendo que os
homens se aborreciam com uma alimentação monótona, inventou uma pedra sobre a
qual todos se encontrariam regularmente, e se divertiriam e poderiam trocar tâmaras
por trigo, vinho por centeio. E todos
ficaram felizes e o chamaram herói.
Terminava a história de Temurbek para o seu criador. Mas não
para outros. O povo a recontava e de mercador Temurbek passou a curador de
leprosos, de velhote a jovem de trezentas amantes e de simples a guerreiro de
lança. Não haveria problema se um par de meses antes o sobrinho do Xeque não o
tivesse envenenado. Esse sobrinho (de cujo nome original apagou os registros)
passou a apresentar-se como Temurbek, descendente direto do primeiro. A multidão
primeiro por medo depois por costume passou a vê-lo belo e heroico e xamã.
Voltando de feiras do Golfo, Abdulloh não sem imprudência se
meteu a negar que Temurbek tivesse existido. Que era uma invenção sua e as glórias
lhe eram devidas.
Desapareceu a duas léguas da cidade e poucos duvidaram que
os dois Temurbeks, o herói e o atual, não tivessem a ver com isso.
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