- Detesto ser quem sou.
A deprimente primeira linha (que também é o título) do
romance de Jamshid Mohigul trouxe poucos leitores e crítica desfavorável em sua
época, enquanto hoje, se os leitores continuam poucos, o tirano Karimov se
declara seu admirador (acredita quem quer ou é forçado a).
Figura interessante a de Jamshid: os homens usavam túnica,
ele cobria suas pernas com tubos de pano. O turbante era quase obrigatório, ele
preferia usar panos pendentes pelo pescoço. Sempre de preto, barbicha densa,
seus romances falavam de estranhas tribos, porque muito pequenas: um homem, uma
mulher e poucos filhos morando em uma habitação onde se sabia exatamente onde
terminava e onde começava o exterior. Às vezes tinham uma ou outra serviçal.
As tramas envolviam sempre o comércio carnal da mulher da
tribo com um homem que não era membro daquela tribo, ou do homem da tribo com
uma mulher que não o era, o que gerava culpas, emoção desconhecida em Amhitar
fora das guerras. Em um país onde alguns homens tinham trinta concubinas
oficiais esse enredo causou não risos, mas suspeitas de loucura.
Críticos europeus acusaram Jamshid de ser um imitador dos
romances franceses de corno, um Flaubert misturado com Maupassant com a
desvantagem de não ter olhos azuis.
Calaram-se ao fazer as contas: Jamshid publicara seu romance
no ano 1355. Não poderia imitar ninguém. Então os críticos se calaram, e sem ter
como desvendá-lo calam até hoje.
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