“El- Khazazharakbattar
destrói o Início de Tudo” – e quem o escreveu não era gente pequena. Uma improvável
tradução búlgara desta epopeia narrativa do começo do mundo caiu nas mãos de um
romeno meio fascistinha chamado Mircea Eliade, que a traduziu (trabalho de má
qualidade, pois tradução da tradução) e escreveu opúsculo sobre ela, o qual
incluiu como apêndice da segunda edição de seu clássico O Mito do Eterno Retorno, distribuída nesta data.
No El- Khazazharakbattar
(por ele traduzido como O Começo do Início
dos Recomeços) o mundo começa numa ordem. Há deuses, senhores, servos e
escravos, todos felizes, as montanhas em ordenado círculo e as águas sem se
misturarem com os ares. Sem que a própria narrativa seja muito clara a
respeito, em algum ponto os homens querem tomar terras e trigo dos outros
homens, os machos batem nas fêmeas, alguns homens põem coroas na cabeça e
cobram impostos, e os ares se revoltam contra as águas em furacões e as águas
devolvem secas e o chão gera terremotos.
As epopeias (todas) se sucedem em irritante monotonia – em todas
há uma passagem do Caos para a Ordem, feita por um Herói. A epopeia Amhitar transforma
a Ordem em Caos, obra de Ninguém. Mais adequada ao amargo homem moderno, talvez,
e que contrariava as próprias conclusões de Eliade, preso às epopeias
tradicionais. Nenhuma honestidade é absoluta, nem mesmo a intelectual, e o sábio
retirou a incômoda epopeia Amhitar das edições ulteriores de seu clássico.
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