Há pouca dúvida, mesmo em uma
história assolada de mitos como é a de Amhitar, que seja no dia de hoje que
Feruz Karimhov sumiu do mundo dos vivos e que tal ocorreu no ano dos hereges de
1617, embora as certezas por aí parem.
Durante gloriosos sete dias [algumas
versões assinalam onze] este sapateiro consertou o mundo. Parava joalheiros e comerciantes
e descrevia a fome dos pobres. Quando os ricos não se comoviam Karimhov lhes
afundava ao punhal nas barrigas. As moedas roubadas (ou expropriadas) eram
jogadas nas casas humildes, embora alguns humildes gritassem que Karimhov devia trazer-lhes mais dinheiro, que
ele os roubava.
A diferença entre a rápida trajetória
do herói de Amhitar e a longa carreira de Robin Hood reside na diferença entre
um homem real e um mito. Inevitavelmente os guardas do Sultão o arrastaram para
um morro e a degola. As testemunhas divergem. Para a maioria, uma adaga da
altura de sete montanhas rasgou as nuvens e o herói subiu num pulo e num
sorriso. Outros não concordam, mas foi a versão que prevaleceu.
Quiseram os deuses [mas os deuses
não querem nada, segundo a mitologia Khazyr] que o herói Feruz Karimhov tivesse
o sobrenome semelhante ao do ditador Islam Karimov. A data de hoje é a única
comemorada tanto pelo governo, que a celebra enforcando quatro oposicionistas,
como pela oposição, que, entrincheirada nas serras, se recusa a revelar o nome
dos soldados do governo que envia para junto do herói.
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