A História Oficial afirma [de
maneira considerada duplamente errônea] que hoje no ano de 1919 estreou Itinerário do Mundo, o sétimo filme feito
em Amhitar [tendo os seis primeiros se perdido], com cola caseira e tesoura
servindo de material de edição e que apesar de tudo se revelou obra prima que inspirou
a obra [genial ou supremo aborrecimento, de acordo com o crítico] O Ano Passado em Marienbad, do francês Alan
Resnais. Tal versão, como tudo, recebeu seus contestadores, especialmente o crítico
Jasur Iroshka, o qual, antes de seu desaparecimento, publicou o opúsculo A Odisseia dos Inexistentes, com sete
peças de crítica literária, três novelas e um conto, este último de ficção
científica, escrito em uma língua incompreensível na qual só se entendem duas
palavras, Os Saticons.
Na segunda de suas críticas,
Jasur afirma que Itinerário do Mundo
não repete cenas, o que o torna muito diferente do filme do francês. Consiste na
verdade em uma câmara colocada na mesma posição, a qual registra os gestos diários
das pessoas de uma rua – as aparentes repetições, longe de sofisticação artística,
simplesmente refletem a monotonia da vida.
Isso já seria golpe suficiente no
amor próprio nacional, se o crítico ainda não acrescentasse que Amhitar possuía
uma pujante indústria cinematográfica anterior – com títulos como A Bacanal de Afrodite ou O Harém Proibido do Paxá. Dizem que a isso
se deve seu sumiço em uma viela em Xangai em dezembro de 1942.
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