sábado, 9 de fevereiro de 2013

09 de Fevereiro

Inexistências


Nada aconteceu no ano de 1705 a não ser que nele Dilshod Mukhayyo publicou a sua Irrefutável Prova da Inexistência das Coisas.

Nesse tratado [que não teve sucesso até sua segunda edição 199 anos depois em versão trilíngue de uma gráfica de fundo de quintal em Shangai] o filósofo esfarela as teorias céticas. Quem dizia que o mundo era uma ilusão criada por um ente mágico só para iludi-lo [uma crítica endereçada ao amhitariano Muniza] sofria de egocentrismo infantil. Quem duvidava de tudo para a partir da dúvida reconstruir as certezas [a teoria de Zakhmir-al-Marrhubi, ou René Descartes] não passava de uma contradição ambulante.

A inexistência parte das pequenezas: duas pessoas não veem a mesma flor vermelha. Uma aponta e diz: vermelha, a outra aponta e diz: vermelha, só que nenhuma está no cérebro da outra para dizer se aquele objeto é o mesmo. Portanto [em um salto epistêmico que não deixou de ser criticado] a cor não existe. O mesmo no tocante à forma. E como os objetos são combinações de forma e cor, se estas não existem nada existe. Não se trata de negar o mundo para reivindicar paz ou compreensão. Trata-se de negar mesmo.

Resta o problema de, diante da inexistência das coisas, o que se fazer. Uma versão diz que o filósofo escreveu um livro com esse título, do qual restam três exemplares, dois no cofre do ditador Karimov e o último encerrado no depósito especial do Serviço Secreto britânico, uma história talvez demais romanesca para ser real.

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