Fundação dos Vencidos
A Confraria Lítero-Funerária dos Vencidos da Vida detonou seu
primeiro velório [é como eles
denominavam suas reuniões], constando de contagem
das vítimas [lista de chamada dos confrades], orações fúnebres [leitura de poemas e contos e breves ensaios] e última refeição dos condenados [um
pequeno coquetel com licores e doces e salgadinhos] neste dia em 1888, data que
eles se recusaram a traduzir em outros calendários, levando às [quase] costumeiras
acusações de ocidentalismo.
Os jovens escritores [casacas,
cartolas, coletes e pó escurecido abaixo dos olhos para acentuar o cansaço
existencial] bradavam ser herdeiros dos dois Byrons, o falso (de certo país ilhéu)
e de Byron Jasur, poeta já falecido que não negava que seu pseudônimo era
homenagem ao outro. A poesia dos rapazes [acusada pelos bolcheviques de ser sintoma da decadência burguesa e pelos
tradicionalistas de vilipendiar o Espírito
da Pátria] foi criticada como sendo em todo o mundo a mais densa em menções
a ataúdes, tumbas, coveiros, caveiras, alívio
da morte, despedidas desse mundo vil e alegre partida para o pó. Apesar de todo esse funebrismo os Vencidos da Vida conseguiam vencer algo, a resistência das moças. Suas festas [todos vestidos de decepcionados e ansiando pela morte] permitiam continuações nas quais uma ou outra peça de roupa feminina ficava esquecida no chão. [Talvez] invejosos os acusavam de embusteiros que só queriam garotas.
Retrucavam lendo poemas sobre
esqueletos.
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