domingo, 3 de março de 2013

03 de Março

A frase solitária


Das três inscrições encontradas na sétima [e última] caverna na borda do lago Sarygamysh, Abdullaeva Behruz traduziu [com rapidez e não sem desprezo] duas delas, na verdade meras obscenidades; quanto à terceira, ele decidiu ser muito terrível para sua tradução ser revelada a olhos mortais. [É claro que esse mistério apenas acrescentou interesse a algumas dúzias de rabiscos entalhados na pedra].

O maior dos linguistas de Amhitar morreu em 1798 [1213 da Hégira] com a pouco provável idade de 111 anos [diz a lenda], e na sua maçaroca de papel escritos em alfabetos que só ele entendia os pesquisadores [e caça-tesouros] buscaram a tradução, a qual [descoberta hoje em 1831] se revelou uma tanto enigmática quanto decepcionante frase

Não culparei ninguém por uma ilusão que é só minha

e que gerou uma polêmica de décadas. Disseram uns que era uma advertência de seitas mágicas que usavam drogas para provocar alucinações; outros, que era um aviso [talvez demasiado poético] que caravaneiros escreviam uns aos outros sobre as miragens do deserto.  

Décadas depois a poetisa adolescente Iroshka Maruf em seu pequeno livro de sonetos O Dicionário das Delicadezas escreveu que tal frase seria apenas o desabafo de um jovem por seu amor não correspondido. Quanto à advertência do vetusto Abdullaeva, a poetisa disse que ele estava certo, o amor é mesmo algo terrível - escreveu em um admirável soneto. Talvez por sua simplicidade foi essa versão que ficou para o povo.

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