O Dicionário Completo dos Animais de Amhitar ainda hoje permeia todos
os trabalhos [minimamente sérios] de zoologia e entomologia da região a oeste
do Cáspio. Malgrado isso, Yuliya Rahman não disfarçava [ao contrário, fazia o
melhor para deixar claro] o seu mau-humor na palestra de sua publicação, no dia
de hoje no ano de 1901. Os animais, para ele, eram matéria inferior.
O filósofo-feito-zoólogo se dizia
Humanista - para ser exato, o único Humanista do Mundo [dois artigos publicados
no Figaro e um ensaio na Revista dos Dois Mundos – sob pseudônimo
- em Paris davam segundo ele certo respaldo a tal grandiloquência]. Abraçando
uma interpretação peculiar da Origem das
Espécies de Darwin concluiu que, se a evolução existe, e se a espécie
humana é a mais evoluída, todas as outras deveriam ter cessado de existir, por
serem anacronismos da natureza.
O óbvio beco-sem-saída biológico a
que isso levaria não deixou de ser discutido em sete sessões na Academia de Ciências. Apesar de odiar
bichos, Yuliya dedicou metade da vida a caçá-los em tocas, prendê-los em redes
e levar ferroadas dos ditos. [E também a cortá-los em pedaços, arrancar-lhes as
peles e cortar-lhes os olhos, diziam seus detratores].
Dizia que seu trabalho era na
verdade historiográfico, pois os bichos em breve seriam passado. Quando ao fato
de se dedicar tanto ao que detestava, bradava que essa era uma das incoerências que Evolução no seu curso inexorável se encarregaria
de pulverizar.
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