Relatos de caravaneiros desde o século
V mencionam o Prodígio do oásis de Zarafshan.
As estátuas eram feitas para se parecer com deuses ou generais. Naquela, a
pessoa que a olhava se reconhecia a si mesma. Essa Estátua sou eu! Era o grito mais comum. Moças adolescentes,
velhos perto de conhecer os bisnetos, bandidos, mercadores, colhedores de água
em poços – cinco minutos de recolhida contemplação e aquela massa de pedra marmórea
parecia se moldar – o nariz, a boca, os olhos, os desvios na coluna, as rugas,
os sofrimentos, os desejos de loteria ou cura – tudo do contemplador estava
ali.
Isso não necessariamente trouxe
benefícios a Oksana Abumalik. O artesão tornado escultor teve de responder a julgamentos
perante o Xamã e a sete Conselhos de anciãos, desde a de se ocultar para
utilizar pessoas como modelo sem sua autorização até a de escapar dos trâmites
estabelecidos de fazer arte.
Escapou de todas – até que inevitavelmente
veio a alegação de conluio com poderes negativos. Somente o Mal Personalizado
poderia realizar um prodígio daqueles. Oksana fugiu para o Ponto Euxino [a Enciclopédia da Ásia Central sem citar
fontes estabelece o dia de hoje como data de sua fuga]. Sua obra teve menos
sorte. Quebrada em quatrocentos e nove pedaços rigorosamente contados foi
jogada no segundo ponto mais fundo do Balkash. Sobrou seu olho esquerdo [dizem]
que parecia sorrir e piscar para todos os que olhavam [e fugiam espavoridos]. Esse
detalhe quedou como lenda.
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