Trinta tempestades mágicas em
sequencia criaram as três gargantas pedregosas chamadas Dilshoda [diziam, e
depois deixaram de dizer]. A primeira vaga de pensamento racionalista em
Amhitar [ocorrida no século XIV dos hereges, muito antes do Ocidente] destruiu
essa lenda com a beleza esfumaçada de todas as lendas. Tais gargantas, diziam
os sóbrios filósofos, não existiam.
Livres do constrangimento do chamado
mundo real [com sua beleza esfumaçada] as canções de ninar e as histórias de
botequim por cinco séculos encheram esses inexistentes vales de pedra de palácios
de ametista, Cinderelas virgens, guerreiros de lança e velhos sábios com barba
de quatro quilômetros e meio [sem que nenhum folclorista jamais soubesse a causa
de tamanha precisão].
Uma caravana perdida [e semimorta
de sede] chegou a Shhmaerkant no dia de hoje em 1868 com a notícia de que os
lendários desfiladeiros não eram lendários. [A razão de sua não-descoberta é
que todos os procuravam nas montanhas do Sul, quando se encontravam perto da
bacia Garabogazköl, no Oeste.] Essa descoberta [e as expedições arqueológicas que
se seguiram] transformaram as mágicas escarpas em um tolo lugarejo seco e sem
graça, habitado por duas aldeias sujas das quais nem o folclore possuía alguma
beleza. Ao saber que suas histórias de ninar eram fantasias, o menino [e futuro
historiador radical] Iusya Marzhaffar escreveu em seu diário que hoje eu descobri que nenhuma lenda existe, e
só a pedra é real.
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