quarta-feira, 20 de março de 2013

20 de Março

As mentiras do Livro


Crianças descobriram o Livro dos Milhões [dizem] quando brincavam no Amur-Daria. O tradutor russo não sem dificuldade atravessou o dialeto Bakhmar e concluiu que se tratava da viagem do Almirante Shernazar [cuja única narração conhecida era uma (quase) ridícula menção a uma ilha cheia de espelhos atribuída [não por todos] ao escrivão da frota Fahrod Feruz Shavkat [e celebrada nestas Efemérides a 8 de janeiro].

O invasor czarista General von Kaufmann agarrou a oportunidade de agradar os vencidos – em 1871 ainda caíam ruínas da invasão. Narravam viagem maravilhosa e traziam a saudade do Litoral [que Amhitar há muito perdera] Mas que recuperará, dentro da União Pan-Russa e sob nosso amado Czar – disse o General na comemoração dos dois anos da tomada da cidade, ou do Triunfo da verdadeira Fé Ortodoxa.

Um par de dias depois [na data de hoje] um panfleto anônimo [dizendo-se não político mas linguístico] afirmou que Hannirum-zu-Maalik, o título do livro, não significava aquilo. Hannirum não vinha de Hanhnir [mil vezes mil, ou ovos podres], mas de Hraanur [Falsidade, Exagero, ou Homem careca]. O relato era portanto o Livro das Mentiras. Von Kaufmann, convencido [ao que se saiba injustamente] de que o autor do panfleto fora o seu próprio tradutor, transferiu-o para as margens do rio Lena – numa punição afinal não efetivada pois o tradutor tenente Raievski tinha amizades com a aia da Czarina e conseguiu um bom posto burocrático em São Petersburgo.

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