Crianças descobriram o Livro dos Milhões [dizem] quando
brincavam no Amur-Daria. O tradutor russo não sem dificuldade atravessou o dialeto
Bakhmar e concluiu que se tratava da viagem do Almirante Shernazar [cuja única
narração conhecida era uma (quase) ridícula menção a uma ilha cheia de espelhos
atribuída [não por todos] ao escrivão da frota Fahrod Feruz Shavkat [e
celebrada nestas Efemérides a 8 de janeiro].
O invasor czarista General von
Kaufmann agarrou a oportunidade de agradar os vencidos – em 1871 ainda caíam ruínas
da invasão. Narravam viagem maravilhosa e traziam a saudade do Litoral [que
Amhitar há muito perdera] Mas que
recuperará, dentro da União Pan-Russa e sob nosso amado Czar – disse o
General na comemoração dos dois anos da tomada da cidade, ou do Triunfo da verdadeira Fé Ortodoxa.
Um par de dias depois [na data de
hoje] um panfleto anônimo [dizendo-se não político mas linguístico] afirmou que
Hannirum-zu-Maalik, o título do
livro, não significava aquilo. Hannirum
não vinha de Hanhnir [mil vezes mil, ou ovos podres], mas de Hraanur [Falsidade, Exagero, ou Homem
careca]. O relato era portanto o Livro
das Mentiras. Von Kaufmann, convencido [ao que se saiba injustamente] de
que o autor do panfleto fora o seu próprio tradutor, transferiu-o para as
margens do rio Lena – numa punição afinal não efetivada pois o tradutor tenente
Raievski tinha amizades com a aia da Czarina e conseguiu um bom posto burocrático
em São Petersburgo.
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