sábado, 23 de março de 2013

23 de Março

A segunda inexistência


A tese da inexistência de Amhitar foi levantada três vezes em sua história, sendo a terceira quando Lev Trotski barbicha e pince-nez declarou que tal país nunca existira, e em suas pretensas fronteiras dever-se-ia criar uma república proletária com o nome [infame] de Uzbequistão.

A segunda [e mais interessante] delas, no entanto [e que tragicamente não deixou de fornecer argumentos para a terceira] só veio a público após o falecimento [no dia de hoje no ano 1299 dos hereges (707 da Hégira)] de Alimova Rashid, filho do filho natural do cronista Abdul al-Wazahari, uma [quase] unanimidade como o patriarca dos historiadores de Amhitar.

Alimova só encontrou uma vez o avô famoso. [Não era um intelectual – apenas moldador de potes]. Lembra-se que o idoso Abdul cofiou o fio da barba e disse: Amhitar não existe. Ele é a criação de um grupo de califas e generais, que por sua vez foram imaginados por um grupo de inexistentes geógrafos e historiadores, que por sua vez são o fruto da cabeça de um só,  um rapaz solitário em país do futuro nos trópicos. E quem disse que este que nos imagina também não é a criação de sete outros? E quem lerá o que ele imaginará, Alá por acaso garantiu sua existência?

Pelo resto de sua vida Alimova teve medo - não o banal de morrer mas o de nunca ter existido. Cantou, brincou, dançou. Seu breve relato desafortunadamente foi usado para sórdidos fins políticos. 

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