Um homem sentado em poltrona –
uma sala – uma janela e uma porta – um jarro de gerânios e um manual de Cabala sobre
uma mesinha: este é o cenário.
Pela janela se esgueira uma voz [a
expressão quase não é metafórica]:
Isto é um crime
E após dois exatos segundos de
pausa
Vou cometer o crime agora
O homem [sua expressão muda de
acordo com a cena] abre a porta e corre por corredores que se dobram em ângulos
retos, cada vez mais rápido: esta é a ação.
O filme História dos Inolvidáveis Silêncios consiste nessa cena apenas,
repetida 14 vezes. Mudam detalhes: os cabelos do ator, a emoção no seu rosto, a
largura dos corredores labirínticos [às vezes largos como um pátio, enquanto em
certas cenas parece esmagado pelas laterais que se fecham], o número de flores
no jarro, inicialmente nove, cai para três afinal.
Estreou na data de hoje em 1931 o
primeiro filme sonoro de Amhitar. O subcomitê de censura incrivelmente [e demonstrando
uma pouco abundante cultura cinematográfica] não percebeu que o nome do diretor
registrado G. Méliès era um óbvio pseudônimo inspirado em um cineasta francês
até que o filme estivesse nas salas do país.
De qualquer forma o caráter
[aparentemente] pouco político do filme permitiu que continuasse a ser exibido.
A partir de 1995 uma corrente revisionista tem procurado afirmar que o filme
era monótono como crítica à monotonia da vida soviética, ou da vida mesmo. O
sucesso de tal interpretação não tem sido grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário