domingo, 14 de abril de 2013

14 de Abril

O Crime do Filme


Um homem sentado em poltrona – uma sala – uma janela e uma porta – um jarro de gerânios e um manual de Cabala sobre uma mesinha: este é o cenário.

Pela janela se esgueira uma voz [a expressão quase não é metafórica]:

Isto é um crime

E após dois exatos segundos de pausa

Vou cometer o crime agora

O homem [sua expressão muda de acordo com a cena] abre a porta e corre por corredores que se dobram em ângulos retos, cada vez mais rápido: esta é a ação.

O filme História dos Inolvidáveis Silêncios consiste nessa cena apenas, repetida 14 vezes. Mudam detalhes: os cabelos do ator, a emoção no seu rosto, a largura dos corredores labirínticos [às vezes largos como um pátio, enquanto em certas cenas parece esmagado pelas laterais que se fecham], o número de flores no jarro, inicialmente nove, cai para três afinal.

Estreou na data de hoje em 1931 o primeiro filme sonoro de Amhitar. O subcomitê de censura incrivelmente [e demonstrando uma pouco abundante cultura cinematográfica] não percebeu que o nome do diretor registrado G. Méliès era um óbvio pseudônimo inspirado em um cineasta francês até que o filme estivesse nas salas do país.

De qualquer forma o caráter [aparentemente] pouco político do filme permitiu que continuasse a ser exibido. A partir de 1995 uma corrente revisionista tem procurado afirmar que o filme era monótono como crítica à monotonia da vida soviética, ou da vida mesmo. O sucesso de tal interpretação não tem sido grande.

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