Foi curiosamente o multiautor Ronald
Wright no seu [não pouco apocalíptico] Uma Breve História do Progresso [Toronto,
2004] que restaurou uma ideia de Abdul Al-Wazahari, a de que Amhitar [ou ao
menos sua parte ocidental] era [na verdade] o Paraíso.
Não todo o Paraíso, de fato. O
cronista medieval afirmou [em três papiros hoje no Museu Histórico de Alma-Ata]
que Shuhrrat e Gamnaal [uma alusão a Adão e Eva] expulsos caminharam 49 mil dias e
49 mil e uma noites [um óbvio exagero, mesmo descontada a distância] para as
margens do Aral. [A partir de então a história do casal primeiro de Amhitar se
torna tão semelhante à da dupla bíblica a ponto de ser considerada plágio.]
O canadense afirma quer o Paraíso
existia, localizava-se em Çatal Hüyük na Anatólia, e os homens foram de lá expulsos
não por um anjo mas por sua própria burrice – que os fez desmatar tudo e as
chuvas arrastaram o solo fértil. Desceram para a Mesopotâmia e inventaram a
grande [e fracassada] civilização Suméria. Todos
exceto seis casais [diz o canadense – e não um só]. Instalados na foz do Syr-Daria, no Aral, criaram um modo de vida tão
simples que não merece ser aqui estudado.
Não deixa de ser um tapa na cara –
Wright se interessa por grandes civilizações que fracassaram. Afirma portanto
que Amhitar nunca foi grande. Essa indiferença [mais odiosa que a raiva] faz
com que seu livro seja desprezado tanto pela Ditadura de Karimov como pelos
guerrilheiros amhitarianos.
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