terça-feira, 23 de abril de 2013

23 de Abril

Parcas tentações

Apenas dezessete rolos de papiro em couro de cabra informam que existiu um homem chamado Gelasiminius [embora tal nome seja um óbvio pseudônimo], que viveu pelo século VII ou VIII, que escreveu todos [ou quase] os seus rolos em um Mosteiro na Ponta do Sinai e que a 23 de abril [na única data precisa em seus escritos]a tentação o tentou moer em suas garras de lodo [a expressão caracteristicamente é do próprio monge.] [O décimo-terceiro rolo produziu não poucas versões falsas (e lucro para quem as fez )].

Três demônios [diz o pio religioso no tal rolo] o acossaram quando meditava no deserto. Transformaram-se em dragão e tentaram me fazer perder o controle das funções fisiológicas, de medo. Vendo que não funcionava, mudaram de tática. O deserto sumiu, veio um palácio – os tapetes macios e os assados de porco [o monge jejuava já por 99 dias]. A cabeça tonteando, recusou.

Finalmente transformaram-se em mulher – uma garota cuja beleza semelhava à tranquilidade extrema. Em um par de segundos o monge viu a paz, os filhos, a rotina-do-cuidar, a morte entre os netos. Consciente de que esta era a maior das tentações, rezei mil e onze  vezes para São Cirilo e Atanásio antes de voltar à esperança do Céu.

Embora belíssima, editores consideraram que essa história podia ter aumentado seu potencial de vendas e transformaram a garota em sete, diminuíram em muito a roupa que usavam e deram a ela o título de Memórias Secretas da Luxúria, unanimemente tido como péssimo.

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