Apenas dezessete rolos de papiro
em couro de cabra informam que existiu um homem chamado Gelasiminius [embora
tal nome seja um óbvio pseudônimo], que viveu pelo século VII ou VIII, que
escreveu todos [ou quase] os seus rolos em um Mosteiro na Ponta do Sinai e que
a 23 de abril [na única data precisa em seus escritos]a tentação o tentou moer em suas garras de lodo [a expressão
caracteristicamente é do próprio monge.] [O décimo-terceiro rolo produziu não
poucas versões falsas (e lucro para quem as fez )].
Três demônios [diz o pio
religioso no tal rolo] o acossaram quando meditava no deserto. Transformaram-se em dragão e tentaram me
fazer perder o controle das funções fisiológicas, de medo. Vendo que não funcionava,
mudaram de tática. O deserto sumiu, veio um palácio – os tapetes macios e os
assados de porco [o monge jejuava já por 99 dias]. A cabeça tonteando, recusou.
Finalmente transformaram-se em
mulher – uma garota cuja beleza semelhava
à tranquilidade extrema. Em um par de segundos o monge viu a paz, os
filhos, a rotina-do-cuidar, a morte entre os netos. Consciente de que esta era a maior das tentações, rezei mil e onze vezes para São Cirilo e Atanásio antes de voltar
à esperança do Céu.
Embora belíssima, editores
consideraram que essa história podia ter aumentado seu potencial de vendas e
transformaram a garota em sete, diminuíram em muito a roupa que usavam e deram
a ela o título de Memórias Secretas da
Luxúria, unanimemente tido como péssimo.
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