Cabelos
soltos ao vento
A
vida que Dilafruz Shahmat criou para si teve seu segundo começo hoje
[sendo o primeiro o banal dia de seu nascimento]. Dezoito anos
[cabelos ao vento] bigode encerado de gomalina [buquê de gerânios]
ajoelhou-se ao pé da amada [ os mais estonteantes negros olhos do
universo]. O pai dela o expulsou – a moça, obrigada, casou com um
rico a quem odiava.
Shahmat
[a lua cheia como testemunha] jurou voltar famoso, e a jovem [fraca e
inconstante] arrepender-se-ia de seu ato. Foi embora [navegou] foi
sequestrado por piratas [tornou-se chefe deles] lutou em guerras [foi
condecorado como herói] fez-se alpinista [subiu os sete montes de
Atlântis] conheceu Napoleão [tornou-se seu lugar-tenente].
Voltou
rico e famoso e encontrou um túmulo: sua amada, arrependida de de
não tê-lo seguido, morrera de desgosto [e ainda regurgitante de
pureza]. De que adiantam as riquezas e a fama, sem o verdadeiro
amor? - pensou a chorar na tumba. Olhou do lado: surgira um
exemplar da Histoire da la Révolution Française, de Jules
Michelet.
Sem
o amor nada mais valia a não ser o recolhimento e o estudo. Doou seu
dinheiro aos pobres, mergulhou em manuscritos velhos e escreveu 77
livros sobre a história de Amhitar. Em homenagem ao mestre ele não
era mais Shahmat, mas Dilafruz Michelet, o mais romântico dos
historiadores.
Essa
é a história que o escritor Dilafruz criou para si. Outros dizem
que ele foi um tímido adolescente ledor, e que nunca teve namorada
[mas a inveja existe].
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