O
Primeiro Turista
E
René Caillié conseguiu afinal, e triplamente: foi o sétimo
ocidental [dizem] a conhecer o Reino de Amhitar e ganhou o nome de
uma canhoneira fluvial na Troisième République [utilizada
para guerras coloniais]. [Sua terceira proeza, a de primeiro
visitante do Mali e do Níger, tem sido não pouco contestada pois,
ao contrário de Amhitar (lugar sólido) há dúvidas quanto à
existência de tais supostos acidentes geográficos].
Um
quarto feito obteve menos divulgação embora [talvez] maior
importância: os sérios [e um tanto chatos] viajantes da época [os
Saint-Hilaire, Martius e Humboldt da vida e da morte] moviam-se
carregados de malas, carregadores, pincéis, diários de viagem,
livros de velhos geógrafos árabes que ninguém mais lia, diplomas
de História Natural nas [raríssimas] universidades da época e uma
erudição irritante.
O
jovem francês [ao contrário] saberia explicar menos que qualquer um
por que saiu de sua terra e foi se meter no mundo alheio. Ao
contrário dos sóbrios sábios que o precederam não queria salvar o
mundo [nem mesmo se interessava muito por ele]. Glutão inveterado
[não necessariamente de alimento] o rapaz queria comer: sensações,
sabores, odores, paisagens, e mais que tudo queria a sensação de
Ei, vejam só, eu estou aqui! - e ir embora.
Por
sua doce [alguns diriam estúpida] irresponsabilidade, não deixou de
ter seu galardão: o dia de hoje [dia em que em 1821 cruzou as
fronteiras amhitarianas] foi declarado Dia do Turista.
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