Heródoto o historiador grego no
segundo ou terceiro capítulo de sua História
[a localização exata muda de acordo com a versão] publicou uma versão tanto
reveladora quanto apavorante das origens da arte teatral. Não seria grego [diz
ele] mas sim amhitariano, e objetivava uma imitação [mímesis] a mais perfeita possível da realidade.
Nada tão neutro quanto possa
parecer, tal princípio levado às últimas consequências obrigava a que cada lágrima
fosse sentida, cada riso fosse real, cada êxtase de prazer fosse autêntico e
cada facada vertesse sangue: apunhalava-se de verdade nas cenas de assassinato
e envenenava-se de suicídio.
Os costumes mais suaves dos novos
tempos [e o medo] fizeram isso parecer bárbaro e as facas de lâmina aguçada em
cena foram substituídas por madeira mas não sem uma concessão à velha escola
realista – o público não distinguia entre o assim chamado representado e o
assim chamado real – e os assassinos em cena eram cuspidos e estrangulados nas
ruas, as prostitutas eram assediadas por desejosos clientes e as mocinhas recebiam
propostas de casamento, sendo elas já casadas ou moças alegres na vida
conhecida como real. Ignora-se quando isso acabou.
Episódio pouco documentado da
história, sabe-se apenas que a Academia
de Ciências de Amhitar tomou o dia de hoje para rememorá-lo – e para
protestar que as edições modernas de Heródoto retiraram a referência
amhitariana, substituindo-a pela Pérsia, e mesmo assim suavizando os costumes
teatrais.
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