domingo, 19 de maio de 2013

19 de Maio

Real Teatro


Heródoto o historiador grego no segundo ou terceiro capítulo de sua História [a localização exata muda de acordo com a versão] publicou uma versão tanto reveladora quanto apavorante das origens da arte teatral. Não seria grego [diz ele] mas sim amhitariano, e objetivava uma imitação [mímesis] a mais perfeita possível da realidade.

Nada tão neutro quanto possa parecer, tal princípio levado às últimas consequências obrigava a que cada lágrima fosse sentida, cada riso fosse real, cada êxtase de prazer fosse autêntico e cada facada vertesse sangue: apunhalava-se de verdade nas cenas de assassinato e envenenava-se de suicídio.

Os costumes mais suaves dos novos tempos [e o medo] fizeram isso parecer bárbaro e as facas de lâmina aguçada em cena foram substituídas por madeira mas não sem uma concessão à velha escola realista – o público não distinguia entre o assim chamado representado e o assim chamado real – e os assassinos em cena eram cuspidos e estrangulados nas ruas, as prostitutas eram assediadas por desejosos clientes e as mocinhas recebiam propostas de casamento, sendo elas já casadas ou moças alegres na vida conhecida como real. Ignora-se quando isso acabou.

Episódio pouco documentado da história, sabe-se apenas que a Academia de Ciências de Amhitar tomou o dia de hoje para rememorá-lo – e para protestar que as edições modernas de Heródoto retiraram a referência amhitariana, substituindo-a pela Pérsia, e mesmo assim suavizando os costumes teatrais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário