segunda-feira, 20 de maio de 2013

20 de Maio

O feliz desgraçado Agostinho


A mais política das canções amhitarianas [até recentemente uma simples canção de ninar] se chama Khasorthieend-al-Zhamapiad, que uma tradição tanto antiga quanto incompetente em linguística convencionou traduzir como Meu Querido Agostinho.

Como todas as canções que todos cantam ninguém pensa muito na letra, e uma sóbria dissertação na Universidade de Alma-Ata em 1968 [em um dos poucos estudos amhitarianos realizados na terra dos inimigos kazaks] realizou a proeza de prestar atenção no que se berrava Ah meu querido Agostinho, Agostinho, Agostinho/ O dinheiro se foi/ a mulher te deixou / os títulos foram tomados / os parentes se esfumaçaram / você está coberto de sujeira / o mundo se foi / meu querido Agostinho, Agostinho, Agostinho!

E descobriram que tal canção encobria uma tétrica história de um tocador de cornetas que a guarda do Xeque durante uma peste em Shamaeerkhant confundiu com um cadáver e o jogou em uma pilha de corpos [da qual só se salvou tocando seu instrumento]. O Politburo do Partido Comunista a considerou derrotista [e um tanto escatológica] e a proibiu, com o efeito de torná-la um [não sem sua dose de ridículo] hino das Brigadas Guerrilheiras Amhitarianas. O Congresso Pan-ahmitariano de tradições culturais [em 1991] rejeitou a tese de que a canção se trata de uma imitação de uma Lied germânica e considerou tal ideia Imperialismo Cultural, antes desta expressão cair em desuso.

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