No segundo depois da festa inicial da Ferrovia Trans-Turquestão um homem
desceu à novíssima estação de Shmaerkant no dia 9 de maio de 1881 dos julianos
[21 de maio dos gregorianos]. Não um homem
mas o homem: sua cara de infinito
peso trazia [além da viagem de cinquenta e três horas desde Petersburgo] uma
angústia [e também uma esperança básica]. Deu o improvável nome de Rashkolnikov.
Entrou na primeira taberna.
Misturou a vodca com o shamuzz cachacístico
amhitariano, entrou na segunda taberna, pediu mais e entrou na terceira e nas
demais, sempre mais longe, mais fundo e mais baixo naquele mundo de punguistas
e mulheres de aluguel.
E encontrou a felicidade: naquela imunda baixeza encontrei a
espiritualidade mais viva – disse nas pouquíssimas palavras que jamais
diria sobre sua experiência amhitariana. As prostitutas tiveram pena dele, os
ladrões lhe deram relógios roubados para vender – aquele homem aparentemente de
classe descendo ao baixo-mundo os seduzia. Cantou com eles, dançou, gargalhou.
Seus novos amigos o empurraram de
volta ao trem. Disseram adeus.
Cinco meses depois em Moscou rompeu
o silêncio: esperava escrever um livro
sobre a abjeção completa e para isso fui ao lugar mais abjeto de Amhitar, o
mais abjeto dos países. Mas encontrei Deus em meio à abjeção. Ou melhor,
encontrei a mim.
No dia seguinte bem poucos jornais
anunciaram a morte de Dostoievski.
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