Um colóquio sobre As Origens da Religião em outubro de
1979 na Sorbonne III em Paris concluiu [com unanimidade quase suspeita] que os
povos primitivos abominam os duplos [Caim e Abel, Esaú e Jacó, Gilgamesh e
Enkidu] pois estes lembram conflito e morte. Por isso [prosseguiu o relatório final]
os primitivos invariavelmente repelem a fotografia. Esta teoria [avalizada pelo
antropólogo René Girard] sofreu um abalo com um paper [inexplicavelmente só publicado na semana seguinte] sobre O Anedótico da Arte Fotográfica no Reino de
Amhitar.
Segundo tal estudo, hoje em 1859
o primeiro fotógrafo [cujo nome a história não registra] cruzou as fronteiras do
país. Não foi orgulhoso pioneiro: tremia ao oferecer seus serviços [por medo da
recepção e do calote] e seu único interesse eram as moedas a ganhar. Apresentou-se
ao Vice-Xeque, mostrou-o a ele mesmo gravado numa lâmina de papel químico.
A autoridade se olhou, fez cara
estupefata [o fotógrafo chacoalhando de medo] e abalou o palácio com a
gargalhada. Foi imitado não só pelos cortesãos como pelos outros amhitarianos
que acorreram a comprar fotos. Essa duplicação a eles pareceu ridícula [nunca
se soube se riam de si ou da qualidade do trabalho – o que não teve importância
para o fotógrafo]. Um patriota amhitariano jura que depois ouviu René Girard em
um bar da Avenue Foch depois de três Cabernets dizer Esses amhitarianos quase ferram com minha teoria mas tal informação
é pouco confiável.
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