domingo, 9 de junho de 2013

09 de Junho

Imagens do Ridículo

Um colóquio sobre As Origens da Religião em outubro de 1979 na Sorbonne III em Paris concluiu [com unanimidade quase suspeita] que os povos primitivos abominam os duplos [Caim e Abel, Esaú e Jacó, Gilgamesh e Enkidu] pois estes lembram conflito e morte. Por isso [prosseguiu o relatório final] os primitivos invariavelmente repelem a fotografia. Esta teoria [avalizada pelo antropólogo René Girard] sofreu um abalo com um paper [inexplicavelmente só publicado na semana seguinte] sobre O Anedótico da Arte Fotográfica no Reino de Amhitar.

Segundo tal estudo, hoje em 1859 o primeiro fotógrafo [cujo nome a história não registra] cruzou as fronteiras do país. Não foi orgulhoso pioneiro: tremia ao oferecer seus serviços [por medo da recepção e do calote] e seu único interesse eram as moedas a ganhar. Apresentou-se ao Vice-Xeque, mostrou-o a ele mesmo gravado numa lâmina de papel químico.

A autoridade se olhou, fez cara estupefata [o fotógrafo chacoalhando de medo] e abalou o palácio com a gargalhada. Foi imitado não só pelos cortesãos como pelos outros amhitarianos que acorreram a comprar fotos. Essa duplicação a eles pareceu ridícula [nunca se soube se riam de si ou da qualidade do trabalho – o que não teve importância para o fotógrafo]. Um patriota amhitariano jura que depois ouviu René Girard em um bar da Avenue Foch depois de três Cabernets dizer Esses amhitarianos quase ferram com minha teoria mas tal informação é pouco confiável.

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