terça-feira, 11 de junho de 2013

11 de Junho

O romance do país imaginário

Hoje em 1859 [em uma crise causada por um (temido) vazio de ideias e pela milésima-terceira discussão com sua doce eterna namorada Louise Colet], Gustave Flaubert [lamentavelmente] rasgou todas as 499 páginas que escrevera de seu romance Le Ciel Gris Foncé, O Céu Cinza Escuro. Dessa triste cena não quedaram testemunhos [tudo o que se sabe vem de um relato posterior do seu aluno Guy de Maupassant].

Amhitar entra nesta cena [tão] parisiense. Aborrecido por lidar com advogados e tribunais depois de processado pelo Madame Bovary, Flaubert resolveu se refugiar [ao menos literariamente] o mais longe. Vaporosos relatos lhe revelaram um reino longe, para lá do mar de Aral. Com entusiasmo de iniciante [e alternando com noitadas pouco castas com Louise Colet] em questão de meses o escritor já tinha um resumo e quatro capítulos da história da paixão de uma princesa amhitariana por um rebelde mercenário. A Amhitar flaubertiana continha zebras, coroas de trezentos quilates de diamante, florestas tão densas que um mosquito não podia penetrar – tudo o que Amhitar não era.

A realidade, porém, continuava a mesma. O ministério dos negócios estrangeiros francês reclamou que o livro poderia atrapalhar seu jogo geopolítico na Ásia Central. Em fúria, Flaubert rasgou as páginas e fugiu dessa vez ao passado – e escreveu Salammbô, a história de uma princesa cartaginesa. Fragilizado, escreveu um bilhete a Louise Colet dizendo que ainda a amava.

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