quarta-feira, 19 de junho de 2013

19 de Junho

Os três céus

Donyhor al-Temurbek [ou um de seus 999 ou 1.007 avatares, conforme a contagem] subiu aos céus no dia de hoje em 1888 [um dia comum, igual aos outros, exceto que nele o povo de Amhitar (tão em massa que parecia o povo de todo o mundo) se reuniu em protesto contra o Czar, contra os russos e contra tudo]. Apesar da massa calculada [com inverossímil precisão] em 97.931 pessoas, não passam de cinco as testemunhas [com mínima confiabilidade] que viram o herói colocar-se à frente, entre a linha dos cossacos que de sabres desembainhados avançava.

[Os cavalos em volta a transformar o tudo sem sangue e poeira] e os gritos semelhavam partir pedras e no meio [em pé, os cavalos que pareciam não vê-lo] Temurbek [dizem] voltou os olhos [secos e em forma de amêndoa] para o sol – e aquela sua [pequena porém significativa] proeza parou os cossacos e neste ponto os testemunhos se dividem. Para dois deles, uma gigantesca mão dourada baixou de sete nuvens [de bordas douradas] e arrancou o herói para a terceira das nove camadas do Empíreo.

Duas testemunhas contrabalançam o excessivo misticismo da primeira e afirmam que após varado por treze balas czaristas o herói reviveu, mas na alma combatente do povo [compreensivelmente a explicação adotada pelos radicais]. Uma quinta e última, porém, diz que Temurbek nunca esteve lá – o povo precisava de líderes, e não os tendo, criou um. Por seu caráter anticlimático tal versão ostenta poucos adeptos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário