domingo, 23 de junho de 2013

23 de junho

O Dia Nacional das Heresias e dos Heréticos

As três milhões de heresias religiosas de Amhitar [número inacreditavelmente reproduzido na reacionária Enciclopédia do Turquestão e mais injustificadamente ainda na revolucionária Enciclopédia das Massas Trabalhadoras] não eram, obviamente, três milhões. Uma explicação para tal engano pode ser encontrada na quarta edição da Encyclopaedia of Heresies and Heretics, de Chas S. Clifton [cujo verbete relativo a Amhitar (depois inexplicavelmente retirado) se baseia em artigo do historiador Dilafruz Michelet] – também consta uma breve menção [ainda mais esclarecedora] no O Sagrado e o Profano de Mircea Eliade.

Segundo tais obras, o que caracterizava dois dos três grandes troncos da religião amhitariana [os dialetos sagrados Khazyr e Bakhmar] era o inverso das religiões não-amhtarianas: enquanto os profetas de Jeová, Deus-Pai e Alá tonitruam certezas e abundam em frase do tipo Eu mando, os não-profetas [só havia esses] dessas duas seitas tossem, pedem licença e desculpas antecipadas apara o caso de estar errados. A dúvida fundamenta as religiões amhitarianas. Por isso [dizem as duas notas] popularizou-se um fantasioso número de heresias. Não o são, e sim o número de soluções para o problema da verdade, que praticamente coincide com o número de fiéis, pois cada um tem sua certeza. Ao contrário das religiões não-amhitarianas, nas quais isso causa fogueiras e guerras santas, em Amhitar a dúvida é aceita, e até celebrada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário