O Dia Nacional das Heresias e dos Heréticos
As três milhões de heresias religiosas
de Amhitar [número inacreditavelmente reproduzido na reacionária Enciclopédia do Turquestão e mais injustificadamente
ainda na revolucionária Enciclopédia das
Massas Trabalhadoras] não eram, obviamente, três milhões. Uma explicação
para tal engano pode ser encontrada na quarta edição da Encyclopaedia of Heresies and Heretics, de Chas S. Clifton [cujo verbete
relativo a Amhitar (depois inexplicavelmente retirado) se baseia em artigo do
historiador Dilafruz Michelet] – também consta uma breve menção [ainda mais esclarecedora]
no O Sagrado e o Profano de Mircea Eliade.
Segundo tais obras, o que
caracterizava dois dos três grandes troncos da religião amhitariana [os
dialetos sagrados Khazyr e Bakhmar] era o inverso das religiões não-amhtarianas:
enquanto os profetas de Jeová, Deus-Pai e Alá tonitruam certezas e abundam em
frase do tipo Eu mando, os não-profetas
[só havia esses] dessas duas seitas tossem, pedem licença e desculpas
antecipadas apara o caso de estar errados. A dúvida fundamenta as religiões amhitarianas.
Por isso [dizem as duas notas] popularizou-se um fantasioso número de heresias.
Não o são, e sim o número de soluções para o problema da verdade, que praticamente
coincide com o número de fiéis, pois cada um tem sua certeza. Ao contrário das
religiões não-amhitarianas, nas quais isso causa fogueiras e guerras santas, em
Amhitar a dúvida é aceita, e até celebrada.
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