quinta-feira, 27 de junho de 2013

27 de junho

A bicefalia do homem

Os gêmeos Java e Kobe Shernazar [inadvertidamente] iniciaram uma discussão que tem sido reputada [não sem algum exagero] de dividir famílias, provocar duelos e tentativas de empurrões em abismos.
De Java, pouco a dizer. Nascido hoje em 1349 [749 da Hégira] tornou-se sapateiro, como o pai. Consertou sapatos. Consertou sapatos. Casou-se. Consertou sapatos. Teve filhos. Consertou sapatos. Consertou sapatos. Teve netos. Consertou sapatos. E morreu, 89 anos e só Alá sabe quantos sapatos depois.

Kobe seguiu um líder que falava de revolta, da opressão dos estrangeiros, de um reino de leite e mel. E que nada disso viria sem sangue. Aprendeu a manejar espadas. Matou seu primeiro soldado. Levou duas flechadas. Fugiu para Sinkiang. Apaixonou-se por uma princesa local. O pai dela mandou jogá-lo em masmorra. Fugiu. Tornou-se marinheiro. Descobriu a redondeza do mundo. Voltou. Morreu aos 22 anos de lança no peito em guerra libertadora contra um principote opressor.

Quem teve uma melhor vida – é a questão. Alguns dizem que foi Java. Foi produtivo, ensapatou o mundo, teve algum prazer, preservou a saúde, morreu porque não dá para fazer de outra forma. Outros alegam que sua vida foi monótona e preferem Kobe: o jovem guerreiro, idealista e barbas ao vento – embora estivesse debaixo da terra muito cedo.

Nenhuma das Academias da história de Amhitar teve coragem de tomar posição definida a esse respeito – por receio de uma divisão irreparável entre seus membros.

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