Os gêmeos Java e Kobe Shernazar [inadvertidamente]
iniciaram uma discussão que tem sido reputada [não sem algum exagero] de
dividir famílias, provocar duelos e tentativas de empurrões em abismos.
De Java, pouco a dizer. Nascido hoje
em 1349 [749 da Hégira] tornou-se sapateiro, como o pai. Consertou sapatos.
Consertou sapatos. Casou-se. Consertou sapatos. Teve filhos. Consertou sapatos.
Consertou sapatos. Teve netos. Consertou sapatos. E morreu, 89 anos e só Alá
sabe quantos sapatos depois.
Kobe seguiu um líder que falava
de revolta, da opressão dos estrangeiros, de um reino de leite e mel. E que
nada disso viria sem sangue. Aprendeu a manejar espadas. Matou seu primeiro
soldado. Levou duas flechadas. Fugiu para Sinkiang. Apaixonou-se por uma
princesa local. O pai dela mandou jogá-lo em masmorra. Fugiu. Tornou-se
marinheiro. Descobriu a redondeza do mundo. Voltou. Morreu aos 22 anos de
lança no peito em guerra libertadora contra um principote opressor.
Quem teve uma melhor vida – é a questão. Alguns dizem que foi Java.
Foi produtivo, ensapatou o mundo, teve algum prazer, preservou a saúde, morreu
porque não dá para fazer de outra forma. Outros alegam que sua vida foi monótona
e preferem Kobe: o jovem guerreiro, idealista e barbas ao vento – embora estivesse
debaixo da terra muito cedo.
Nenhuma das Academias da história
de Amhitar teve coragem de tomar posição definida a esse respeito – por receio
de uma divisão irreparável entre seus membros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário