sexta-feira, 28 de junho de 2013

28 de junho

Destinos

Quis o destino [mas o destino provavelmente foi destruído junto com a tabuinha no qual se achava] que fossem as escavações para as latrinas da cidade que possibilitassem o encontro hoje em 1937 das longas varetinhas quadradas de finíssimo barro [não sem os tratores pulverizarem a maior parte]. Esses artefatos com inscrições em dialeto protokhazyr contavam vidas – com tanto detalhe que seria possível alguém viver apenas seguindo um desses roteiros.

Estudos da Academia de Ciências de Moscou conceberam tais varetas como coleções de fatos, que podiam ser semelhantes uns aos outros, mas que, combinados de certa forma, criariam um ser único, tabuinha ou pessoa [em notável antecipação da moderna teoria do DNA].

O espalhamento dessa notícia ocasionou uma corrida às escavações, o que [lamentavelmente] destruiu o que havia sobrado dos tratoristas. Pessoas se atiraram às tabuinhas pois fofocou-se que o destino de cada um estava ali, em alguma vareta. Desesperadas, queriam [e temiam] saber quando iriam morrer ou seriam príncipes.

A passagem de uma vareta de barro para uma vida demanda algum trabalho. O Comitê de Cientistas quis explicar isso, mas o temor da decepção [e da revolta] fez com que se calasse, e o destino [e a ansiedade popular] destruíram os destinos impressos, para o bem [talvez] de todos. Sobraram sete fragmentos guardados no Museu da cidade traidora de Tashkent, tão quebrados que deles nada se entende, muito menos a vida de alguém.

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