sábado, 29 de junho de 2013

29 de junho

O mais completo dos filmes

O Lixo é o nosso melhor Amigo não se constitui [como seria de esperar] em filme humorístico ou de propaganda ecológica. O diretor Nasiba Tori quis valorizar o inverso, disse em uma de suas muito repetidas e pouco inteligíveis frases. A película [estreada hoje em 1924] principiava com um [impressionante mas nem por isso (segundo alguns) menos antiestético] close nos olhos de um peixe podre.  E bidês quebrados, relógios velhos, pedaços de madeirame de navio, papel usado em finalidades pouco nobres, restos de vômito, bifes podres [além das inevitáveis ratazanas e urubus] encheram os olhos [não necessariamente embevecidos] do público por três horas e meia [pois o diretor dizia que os longos temas requerem compridos filmes].

Nada disso teria consagrado o filme como vanguardista se o diretor [um eterno insatisfeito com as limitações da linguagem artística] não tivesse trazido duzentos quilos de lixo para a sala de exibição [com a companhia de algumas dúzias de roedores e uns poucos milhões de moscas] – acrescentado assim a dimensão olfativa à sua obra-prima

A compreensível falta de sucesso não o impediu de seis décadas depois converter-se em cult - jovens cineastas conseguiram que a data fosse declarada o Dia Nacional da Ousadia de Vanguarda - homenagem arrancada não sem alguma compreensível resistência daqueles que alegaram (sem sucesso) que a obra vanguardística nem por isso precisa agredir narizes.

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