O Lixo é o nosso melhor Amigo não se constitui [como seria de
esperar] em filme humorístico ou de propaganda ecológica. O diretor Nasiba Tori
quis valorizar o inverso, disse em
uma de suas muito repetidas e pouco inteligíveis frases. A película [estreada
hoje em 1924] principiava com um [impressionante mas nem por isso (segundo
alguns) menos antiestético] close nos
olhos de um peixe podre. E bidês
quebrados, relógios velhos, pedaços de madeirame de navio, papel usado em
finalidades pouco nobres, restos de vômito, bifes podres [além das inevitáveis
ratazanas e urubus] encheram os olhos [não necessariamente embevecidos] do público
por três horas e meia [pois o diretor dizia que os longos temas requerem compridos filmes].
Nada disso teria consagrado o
filme como vanguardista se o diretor [um eterno insatisfeito com as limitações da
linguagem artística] não tivesse trazido duzentos quilos de lixo para a sala de
exibição [com a companhia de algumas dúzias de roedores e uns poucos milhões de
moscas] – acrescentado assim a dimensão olfativa à sua obra-prima
A compreensível falta de sucesso não
o impediu de seis décadas depois converter-se em cult - jovens cineastas conseguiram
que a data fosse declarada o Dia Nacional
da Ousadia de Vanguarda - homenagem arrancada não sem alguma compreensível resistência
daqueles que alegaram (sem sucesso) que a obra vanguardística nem por isso precisa
agredir narizes.
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