Mukhayyo Danyiar e seu gorducho ajudante
Payton Halim [sendo inevitável a comparação com um fidalgo da Mancha e seu auxiliar
de Pança] iniciaram sua cruzada hoje em 1896. Procurava sua inimiga, a filha
mais velha da morte. Ela se escondia nas vielas sem esgoto, nos cortiços em que
dois dividiam um metro quadrado, nas casas em que a lama era o único soalho. Cavaleiro,
armara-se de lança [uma seringa de vacinação] e de cavalo [um cavalo, mesmo]. Procurava
a peste. Esta cravara os dentes ocos naquele verão e multiplicava pus e
adolescentes mortas.
Mukkayo o primeiro dos farmacêuticos
de Amhitar conhecia a vacinação obrigatória – e o General, o Ministro, o Juiz, o
Emir, o Xeque e o até o Arcebispo ortodoxo também a conheciam. Todos derramavam
lágrimas pelos mortos e pelos que ainda iriam morrer, lamentavam o cruel
destino que criava óbices a suas boas intenções – e não faziam nada. O farmacêutico
pegou seu gordo empregado e seu magro cavalo e vacinou aqueles a quem o governo
negligenciava. Ganhou três campanhas de descrédito na imprensa e cinco
processos judiciais.
Bom mas não santo [provando que
talvez as duas coisas sejam antitéticas] Mukkayo tinha nojo das pessoas simples
a quem vacinava. Achava-os burros, feios e até inferiores. E lhes salvou a
vida. O brevíssimo governo do general Chavkat [por si mesmo uma plenitude de incoerências]
anos depois deu a este dia a [duvidosa] honra de homenagear as contradições.
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