domingo, 7 de julho de 2013

07 de julho

O Dia Nacional das Contradições

Mukhayyo Danyiar e seu gorducho ajudante Payton Halim [sendo inevitável a comparação com um fidalgo da Mancha e seu auxiliar de Pança] iniciaram sua cruzada hoje em 1896. Procurava sua inimiga, a filha mais velha da morte. Ela se escondia nas vielas sem esgoto, nos cortiços em que dois dividiam um metro quadrado, nas casas em que a lama era o único soalho. Cavaleiro, armara-se de lança [uma seringa de vacinação] e de cavalo [um cavalo, mesmo]. Procurava a peste. Esta cravara os dentes ocos naquele verão e multiplicava pus e adolescentes mortas.

Mukkayo o primeiro dos farmacêuticos de Amhitar conhecia a vacinação obrigatória – e o General, o Ministro, o Juiz, o Emir, o Xeque e o até o Arcebispo ortodoxo também a conheciam. Todos derramavam lágrimas pelos mortos e pelos que ainda iriam morrer, lamentavam o cruel destino que criava óbices a suas boas intenções – e não faziam nada. O farmacêutico pegou seu gordo empregado e seu magro cavalo e vacinou aqueles a quem o governo negligenciava. Ganhou três campanhas de descrédito na imprensa e cinco processos judiciais.

Bom mas não santo [provando que talvez as duas coisas sejam antitéticas] Mukkayo tinha nojo das pessoas simples a quem vacinava. Achava-os burros, feios e até inferiores. E lhes salvou a vida. O brevíssimo governo do general Chavkat [por si mesmo uma plenitude de incoerências] anos depois deu a este dia a [duvidosa] honra de homenagear as contradições.

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