As cavernas sem graça
Até mesmo o romântico historiador
Dilafruz Michelet [em raro rompante de mau humor] disse que as cavernas de Chalkad
[a seis milhas da cidade santa de Uchkuduk] representavam um caminho de ouro
para os materialistas de Amhitar.
Não por coincidência foi o objetivo
Iusya Marzhaffar quem denunciou as velhas lendas sobre as cavernas: de que
atravessavam o mundo e chegavam às Ilhas Seychelles e morenas virgens esperavam
o bravo que fizesse a travessia; que tal caverna inspirara a travessia de certos
Dante e Virgílio ao centro da terra, e que o primeiro devia levar um processo
por plágio; que sete Paraísos [o cristão, o muçulmano, o judeu, o confuciano além
de três menores] se situavam no seu centro – e outros entusiasticamente
abraçados por patriotas e românticos.
Para sua ira coletiva Iusya
destrinchou como cada uma dessas lendas surgira em uma época diferente; que
cada uma tinha como base um escrito por sua vez sem base nenhuma; que nem mesmo
tais lendas eram originais (faz troça da pretensa crítica ao poeta florentino).
As evidências [coletadas depois
em três expedições, a última delas em 1999] parecem dar razão aos [aborrecidos]
materialistas. Longe de ser um lugar mágico de Ali-babá, a caverna parece ser
bem monótona. Quanto ao seu fundo, não deságua em nenhum lugar de sonho – e sim
dá uma volta e retorna para o ponto de partida. Um final deveras pós-moderno – afirmou A Academia do Passado Inexistente, inevitavelmente pós-moderna.
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