As vinte e três horas e cinquenta
e sete minutos do dia 14 de julho de 1889 encontraram [quase] toda a cidade de
Shmaerkhaaent em decepção. Por todo o dia esperaram uma explosão de afeto por
parte do já idoso e famoso historiador e ensaísta Dilafruz Michelet. [Seu nome era Dilafruz Shahmat mas o amor por La Belle France, pelos croissants e pelo historiador da Revolução
Francesa Jules Michelet o fizeram adotar o sobrenome deste último (além de
construir uma história de vida totalmente fantasiosa para si, comemorada nestas
efemérides a 8 de maio)].
Sendo hoje o centésimo ano da sua
amada Queda da Bastilha, todos previam explosões de amor francófilo, mas nada -
Dilafruz tomou seu café, tirou o chapéu para os de sempre, deu duas horas de
aula para as normalistas da Escola para Professoras
Catarina a Grande, recolheu-se à seção de mapas da Biblioteca Pública,
tomou seu chá. [Em toda parte 999 olhos o seguiam].
Com três minutos para terminar o
dia [os netos o cercando] esbugalhou os olhos e berrou o mais desafinado Allons enfants de la patrie le jour de
gloire est arrivé registrado na história recente. Do berro caiu estatelado.
Choveram lenços com álcool e água fria. Um par de minutos de suspense e o velho historiador reacordou. Disseram-lhe
que quase morrera.
Sem ocultar cara de decepção
disse: Como seria doce ter morrido no
mais belo de todos os dias! [Este excessivo amor por outro país não deixa
de causar certo ciúme até hoje em Amhitar].
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