O andarilho Dasha Ulugbek [cuja
existência é objeto de não pequena disputa] rachou as crônicas de viagem ao
meio com o célebre quarto rolo de seus pergaminhos no qual teria descrito suas
aventuras no mundo do século XII.
Dasha [em seu estúpido porém
veraz conselho de que para viajar é só
colocar um pé adiante do outro e repetir a operação] descreveu como quase
bate o nariz em uma parede, que se revelou uma muralha, que se revelou um palácio
[inevitavelmente situado sobre uma montanha]. Nada de extraordinário: os príncipes
e os delírios gostam de casas no meio do Nada. O distintivo era o odor. O Palácio
possuía vários aromas [não menos de 77, segundo o viajante] capazes de levar às
estrelas, e além.
Esse pequeno trecho ocasionou as
reações esperáveis, desde as acusações de falsidade até as de discreta apologia
a substâncias entorpecentes – além das [inevitáveis] corridas dos caça-tesouros.
A Utkirbek Lennon no meio dos
anos 60 [esperavelmente um dos hippies do país] coube andarilhar e descobrir o
mistério. Tratava-se de uma mansão de barro [já então abandonada]. Desvelou o segredo,
tão surpreendente quanto banal: certo xeque ordenara mergulhar o barro dos
tijolos de cada cômodo não em água mas em perfume: um de rosas, outro de hortênsias,
outro de madressilvas. O cômodo que Utkirbek mais apreciava não o era, mas a
porta que dava para o deserto.
Aquele é o melhor cheiro, sempre repetia ele, o cheiro do deserto. É limpo.
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