segunda-feira, 5 de agosto de 2013

05 de agosto

Palácio no Deserto

O andarilho Dasha Ulugbek [cuja existência é objeto de não pequena disputa] rachou as crônicas de viagem ao meio com o célebre quarto rolo de seus pergaminhos no qual teria descrito suas aventuras no mundo do século XII.

Dasha [em seu estúpido porém veraz conselho de que para viajar é só colocar um pé adiante do outro e repetir a operação] descreveu como quase bate o nariz em uma parede, que se revelou uma muralha, que se revelou um palácio [inevitavelmente situado sobre uma montanha]. Nada de extraordinário: os príncipes e os delírios gostam de casas no meio do Nada. O distintivo era o odor. O Palácio possuía vários aromas [não menos de 77, segundo o viajante] capazes de levar às estrelas, e além.

Esse pequeno trecho ocasionou as reações esperáveis, desde as acusações de falsidade até as de discreta apologia a substâncias entorpecentes – além das [inevitáveis] corridas dos caça-tesouros.

A Utkirbek Lennon no meio dos anos 60 [esperavelmente um dos hippies do país] coube andarilhar e descobrir o mistério. Tratava-se de uma mansão de barro [já então abandonada]. Desvelou o segredo, tão surpreendente quanto banal: certo xeque ordenara mergulhar o barro dos tijolos de cada cômodo não em água mas em perfume: um de rosas, outro de hortênsias, outro de madressilvas. O cômodo que Utkirbek mais apreciava não o era, mas a porta que dava para o deserto.

Aquele é o melhor cheiro, sempre repetia ele, o cheiro do deserto. É limpo.

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