E Utkirkek Rahman
recebeu a visita de Jesus Cristo! O profeta adentrou pela janela do seu
apartamento [décimo-terceiro andar do edifício Os Mistérios da Nova Amhitar]. Acomodou-se no sofá, cruzou as
pernas, ajeitou os pequenos óculos redondos e pediu uma guitarra elétrica [Utkirkek
só tinha um violão] e três gramas de uma substância proibida [que o anfitrião não
possuía – a polícia política confiscara uma parte e Utkirkek acabara de queimar
o resto].
Jesus cantou
baladas até bobinhas de garotas lindas pela qual supostamente estaria apaixonado,
falou de embarcações amarelas e mandou imaginar um mundo novo [algo estranho
para quem pode criá-lo, mais estranho ainda que o carregado sotaque inglês que
trazia].
Jesus falou não
em três [trindade], mas em quatro pessoas [das quais ele mesmo seria um] naquele
agosto de 1969. Pronunciou para um atarantado Utkirkek a misteriosa frase
Sou mais popular do que eu mesmo.
Devolveu o violão, coçou o nariz
debaixo dos óculos e desapareceu tão macio que o anfitrião nunca soube como.
Só soube [logo que o outro dera
as costas] que não foi o Profeta que o visitara [de resto nisso não haveria
grande mérito – não são poucos os que relatam ter visto Jesus].
Utkirbek entendeu – Ele o visitara. E decidiu dedicar sua
vida a seguir os passos dele. Rahman não mais existia – ele agora era Utkirbek
Lennon, um dos poucos a ter visto John – ao menos tão de perto e com tal nível
de franqueza.
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