Na noite do dia 21 para o dia 22
de agosto de 1920 Leon sonhou por três vezes. [O trem blindado e o barulho de
um ou outro fuzilamento lá fora não lhe continham a imaginação].
No primeiro sonho ele era uma dançarina
[inevitavelmente a mais bela de todas]. Dançava e rodopiava suas [não muitas]
roupas.
No segundo sonho ele era
rinoceronte - contemplava uma árvore florada e procurava se decidir se a
derrubava [revoltado por não conseguir subi-la] ou meramente se quedava a contemplar
sua beleza.
No terceiro ele era ele mesmo. Acordou e uma
menina de cabelos dourados [e de túnica previsivelmente cor de prata] lhe tomou
pela mão, sussurrou que Nada disso é
necessário e o levou para conhecer sua esposa [meia-idade, ainda bela] os
cinco filhos [pobres mas felizes], a casinha perto da linha férrea e os
guisados no domingo com os amigos. E o túmulo, décadas depois, depois de
tranquila e feliz vida.
Leon acordou e percebeu que seu
acordar anterior também fora sonho. Furioso por sua fraqueza assinou mais sete
ordens de execução, vestiu o capote cinza e o gorro com estrela vermelha e dirigiu-se
ao Palácio dos Povos [ainda em construção] enquanto pensava Alguém precisa salvar o Mundo.
Na tribuna falou: rompemos com o passado. A feudal Amhitar deixa
de existir, e decretamos agora o surgimento do proletário Uzbequistão.
A voz de Leon Davidovitch Trotski
[dizem] pareceu incompreensivelmente trôpega.
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