quarta-feira, 21 de agosto de 2013

21 de agosto

Quatro delírios

Na noite do dia 21 para o dia 22 de agosto de 1920 Leon sonhou por três vezes. [O trem blindado e o barulho de um ou outro fuzilamento lá fora não lhe continham a imaginação].

No primeiro sonho ele era uma dançarina [inevitavelmente a mais bela de todas]. Dançava e rodopiava suas [não muitas] roupas.

No segundo sonho ele era rinoceronte - contemplava uma árvore florada e procurava se decidir se a derrubava [revoltado por não conseguir subi-la] ou meramente se quedava a contemplar sua beleza.

 No terceiro ele era ele mesmo. Acordou e uma menina de cabelos dourados [e de túnica previsivelmente cor de prata] lhe tomou pela mão, sussurrou que Nada disso é necessário e o levou para conhecer sua esposa [meia-idade, ainda bela] os cinco filhos [pobres mas felizes], a casinha perto da linha férrea e os guisados no domingo com os amigos. E o túmulo, décadas depois, depois de tranquila e feliz vida.

Leon acordou e percebeu que seu acordar anterior também fora sonho. Furioso por sua fraqueza assinou mais sete ordens de execução, vestiu o capote cinza e o gorro com estrela vermelha e dirigiu-se ao Palácio dos Povos [ainda em construção] enquanto pensava Alguém precisa salvar o Mundo.

Na tribuna falou: rompemos com o passado. A feudal Amhitar deixa de existir, e decretamos agora o surgimento do proletário Uzbequistão.

A voz de Leon Davidovitch Trotski [dizem] pareceu incompreensivelmente trôpega.

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