segunda-feira, 26 de agosto de 2013

26 de agosto

Confraria dos homens-chave

A estranha Seita dos Adoradores da Chave [Zhugirat-el-Khilemilsh] fecha o [mais estranho ainda] Quinto Capítulo do Mito do Eterno Retorno de Mircea Eliade. [De fato, menções a esta congregação constam em duas ou três notas no capítulo XV do Decline And Fall de Gibbon].

Segundo o sábio romeno tal religião supera certos concorrentes seus na mesma época. As estimativas mais modestas põem entre meio e um milhão os que se reuniam para beijar e agradecer a chaves rituais, enquanto no mesmo período os seguidores do profeta hebreu não passavam de doze [que ficariam famosíssimos, mas ainda assim, só doze], o homem de Meca não possuía nenhum e os judeus não juntavam mais de trezentos milhares.

E nem no ponto de vista teológico tal seita é passível de excessivas críticas [e aqui é Gibbon quem fala]: que mais lógico [diz o inglês abdicando momentaneamente da ironia] que adorar uma chave? Afinal as chaves separam e unem: o jardim da sala, a sala do quarto, o exterior e interior, o céu e a terra, o Paraíso e o Outro Lado. E, com o uso da chave certa, pode-se passar de um lugar desagradável para outro talvez menos.

A simpatia dos historiadores não impediu a Seita de sumir, sufocada pelas suas inicialmente modestas competidoras. Ainda existem aqueles que têm fé, e se reúnem ajoelhando-se diante de chaves, pedindo-lhes para lhes abrirem os portões da felicidade. Um rumor de que possuiriam salões secretos em vários continentes revelou-se infundado.

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