terça-feira, 27 de agosto de 2013

27 de agosto

O espião

O agente 0001-AMH [o “AMH” previsivelmente é de Amhitar] chegou ao país hoje em 1954 [a data só foi revelada nas sete horas do brevíssimo regime eleitoral de 1991], com sua túnica cinza, seu sapato cinza, seu chapéu cinza, seu queixo quadrado e sua cicatriz no rosto. Um metro e noventa de músculos, halterofilista e boxeador, não tinha amigos, não tinha família, não tinha vontade de dizer Bom Dia, mas tinha um soco inglês que nunca tirava do punho. Não pedia, ordenava, e não ordenava, rugia. Foi o primeiro homem da KGB no país.

Isso nos quadrinhos de Fanzines.

Na prática, Nicolau Andreievich Bazarov se remordia por ser o fracasso da família. [O pai sonhava em ter um filho engenheiro metalúrgico – ao menos era o que Nicolau pensava]. Não muito alto, e magro de se ver através, e com um inútil bacharelado em artes plásticas, seu destino seria dar aulas para crianças gritalhonas lá pelo Ártico quando encontrou uma porta literalmente aberta, a do novo serviço de segurança.

Passou no concurso apenas por que havia poucos interessados e muitas vagas [ou ao menos foi o que lhe disseram (talvez por malícia) e ele tomou isso como dogma]. Passou 9 anos em uma saleta nos fundos do Palácio dos Ministérios em Amhitar recortando notícias sobre a economia local e enviando relatórios para Moscou, os quais, suspeitava, ninguém se dava ao trabalho de ler.

Também escreveu [dizem] 997 cartas para o pai [o número é suspeito]. Mas estas ele as rasgou todas antes de postar.

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