Os demônios perseguiram Dasha
Ulugbek no deserto de Qyzylorda durante 39 dias e 40 noites. Incialmente batiam
[ou pareciam bater] tambores – e o famoso andarilho [apesar de famoso] deixava
que o medo o invadisse e corria [em meio às rochas e à noite].
Mudaram de tática e se transformaram
em serpentes – e o ruído de suas caudas fazia Dasha interromper suas sonecas e
correr pela vida.
Depois se lamentavam – como espíritos
de eterna queixa – que falam de oportunidades perdidas e amores que não mais voltam–
e Dasha ouvia com clareza [e gelava ao fazê-lo] a voz do seu avô falecido onze anos
antes chamando-o para passear na brisa da manhã.
Na quadragésima noite [exausto de
medo e noites sem dormir] o andarilho fez meia volta [a falta de sono torna
insano ao mais sábio]. Parou e esperou.
Vieram em forma de três meninos
[dois meninos e uma menina]. Maltrapilhos de partir corações [rostos sujos e
com remelas]. Disseram ser órfãos, e que viviam dos restos de comida que os
caravaneiros lhes davam.
Dasha não acreditou. Depois, tremendo,
partiu metade de seu pão preto. Vendo como os demoniozinhos comiam com avidez,
deu-lhes dois terços de sua carne seca. Comeram, fizeram seis reverências e
foram embora.
Dasha [sozinho de novo] decidiu que
os demônios disfarçados de crianças eram crianças mesmo. E decidiu que esta
seria a versão em que acreditaria. E que os barulhos que ouvira eram frutos do
demônio sim, mas de um só – aquele do medo.
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