domingo, 1 de setembro de 2013

01 de Setembro

Disfarçados

Os demônios perseguiram Dasha Ulugbek no deserto de Qyzylorda durante 39 dias e 40 noites. Incialmente batiam [ou pareciam bater] tambores – e o famoso andarilho [apesar de famoso] deixava que o medo o invadisse e corria [em meio às rochas e à noite].

Mudaram de tática e se transformaram em serpentes – e o ruído de suas caudas fazia Dasha interromper suas sonecas e correr pela vida.

Depois se lamentavam – como espíritos de eterna queixa – que falam de oportunidades perdidas e amores que não mais voltam– e Dasha ouvia com clareza [e gelava ao fazê-lo] a voz do seu avô falecido onze anos antes chamando-o para passear na brisa da manhã.

Na quadragésima noite [exausto de medo e noites sem dormir] o andarilho fez meia volta [a falta de sono torna insano ao mais sábio]. Parou e esperou.

Vieram em forma de três meninos [dois meninos e uma menina]. Maltrapilhos de partir corações [rostos sujos e com remelas]. Disseram ser órfãos, e que viviam dos restos de comida que os caravaneiros lhes davam.

Dasha não acreditou. Depois, tremendo, partiu metade de seu pão preto. Vendo como os demoniozinhos comiam com avidez, deu-lhes dois terços de sua carne seca. Comeram, fizeram seis reverências e foram embora.

Dasha [sozinho de novo] decidiu que os demônios disfarçados de crianças eram crianças mesmo. E decidiu que esta seria a versão em que acreditaria. E que os barulhos que ouvira eram frutos do demônio sim, mas de um só – aquele do medo.

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