Às sete horas da manhã de hoje em
1955 Nuri Zakhremat colocou sua gravata. Beijou sua mulher seu filho
e sua filha feinha e partiu para seu emprego de subchefe da
contabilidade da fábrica de cigarros. Às nove, conversando na roda
do café, seus colegas acharam que falava bem, colocaram-no nos
ombros e o proclamaram líder. Ao meio-dia fora declarado chefe da
fábrica, para uma hora depois ser chefe da cidade [o prefeito
atemorizado lhe entregando uma chave simbólica de papelão].
Às três horas no seu
quartel-general [já tinha um] chegavam telegramas de apoio – uma a
uma as cidades do país se entregavam à sua liderança. Às quatro
um comício monstro engolfou a capital e a multidão gritava Nuri!
Nuri!
Às sete da noite, as elites, os militares , os burocratas, a CIA e
os malvados em geral conspiravam para sua derrubada. Às nove a
enorme pressão o obrigou a declarar por lei a Felicidade Geral, para
gáudio do povo e ódio maior dos inimigos. Às dez os tanques
rolavam contra ele.
À meia-noite um tiro ecoou no Palácio Presidencial.
Seu corpo nunca foi encontrado; foi enterrado em segredo; ou, vivo,
fugiu para as Bahamas e mais 776 versões outras.
A vocação amhitariana para a cópia servil explicaria
a trajetória de Nuri. [Dizem não sem mau humor]. Líderes
histriões e meio suicidas [os Nasser, Perón, Getúlio e Tito da
vida] pululavam nos anos 50 – e Amhitar, talvez [mesmo] por
instinto de imitação, não quis ficar de fora.
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