Naquele tempo [sem que ninguém
consiga precisar que tempo foi esse] havia cinco bebidas no país: a água
lamacenta dos rios, a bolorenta dos potes, a arenosa das fontes, a salgada do
mar, e um quinto tipo que era fina mistura dos quatro primeiros, este reservado
a gourmets. Tal piada [mais
melancólica que engraçada] se conta como preâmbulo:
Um menino [que ninguém se
preocupa em dar o nome] caminhava [previsivelmente sozinho] numa estrada quando
um pé de vento o levou mais alto que os mais altos minaretes das mais altas
montanhas. Sobre as nuvens encontrou Buda, Alá, Jeová, Jesus, e [numa curiosa
concessão nacionalista] o herói patriota Donyhor al-Temurbek. Estes lhe entregaram
[em pergaminho de ouro que inevitavelmente depois reclamaram de volta] uma
receita que [segundo suas divinas palavras] tornaria a amhitariana vida menos
aborrecida – receita esta que a mãe do garoto [já de volta a terra] seguiu, e
daí resultou o Mhir´raz ou Mhirraz, a
bebida nacional.
Algumas bebidas vêm da uva,
outras da cana, outras do malte e seus países sempre as atribuem ao gênio
nacional. A bebida de Amhitar vem dos deuses e como os deuses não revelam segredos,
também nunca disseram como devia ser feita. Isso aumenta o brio nacional e também
o lucro dos fabricantes, pois o Mhirraz pode
ser feito com leite de Iaque, pão amanhecido, restos de vinho ou uma mistura de
serragem com pó de café e ninguém pode reclamar, pois afinal não se sabem os
caminhos dos deuses.
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