O Sultão Khaarun-el-Kachid fascinou
Amhitar com sua chegada no ano 601, acompanhado de uma coorte de seis mil
lanceiros montados em lhamas, sete mil caixas do fino vinho da Borgonha, oito
mil toneladas de batatas para os banquetes palaciais, nove mil miniaturas em
ouro do Portão de Brandemburgo e dez mil coroas tiradas do tesouro dos Otomanos
e tal efeméride [celebrada a cada 19 de setembro, o dia tradicionalmente atribuído
a tal fato] se torna ainda mais extraordinária pelo fato de que ainda faltavam
uns bons novecentos anos para os Otomanos acumularem poder suficiente para
roubarem coroas para depois as mesmas serem roubadas deles; que o Portão de
Brandembugo não existia, pois a Prússia não existia para dar origem à Alemanha,
a qual também dormia na mesma inexistência; que seria meio difícil um califa
asiático se refestelar de batatas, pois as batatas ainda estavam sendo comidas
pelos povos da América, e no resto do mundo nem se suspeitava de sua existência;
que os vinhos da França ainda dormiam no limbo, pois a França ainda era um
projeto, ainda mais as beberagens da Borgonha; e que seria um tanto difícil
alguém ser Califa, ou seja, sucessor do Profeta Maomé, antes do próprio se
tornar Profeta.
Essa falange de impossibilidades
contribui para a popularidade da festa, marcada pelas bebedeiras de costume. Os
historiadores gritam, os psicólogos explicam, os sociólogos ironizam e o povo
festeja, sem ligar para essa tolice chamada realidade.
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