Ninguém sabe [ou só o sabem os
deuses, na discutível hipótese da sua existência] em qual dia entronizou-se o
Rei Muqaddas Jumanova. A data em que é comemorada [hoje] resulta apenas de que o
Subcomitê Partidário de Datas
Comemorativas Patrióticas, ao se reunir hoje em 1971, percebeu que o 23 de
setembro nada tinha feito que merecesse celebração e resolveu preencher o vazio
de festas.
Não só a data do Reino como também
a do Reinado se encosta nas neblinas da incerteza, e esta metáfora [de gosto
discutível] se justifica porque o longo período em que tal Reinado pode ter
acontecido [que vai de três séculos a trinta milênios antes de um alegado
Profeta herege, o tal Cristo] geralmente se imagina envolto em névoa [ou então
em noite escura] mais ou menos como nas histórias em quadrinhos de Vikings [não
isentas de popularidade em Amhitar – para escândalo dos patriotas].
Do Rei Muqaddas Jumanova nada se
sabe – o que é costumeiro dos Reis das Vagas
Dinastias Arcaicas – deles nada é conhecido a não ser que são celebrados
conjuntamente no dia quatro de agosto.
A falta de dados exacerba a
imaginação e Muqaddas oscila de jovem romântico a velho sábio [o que não é
mutuamente incompatível, já que os jovens envelhecem]. Os conservadores o veem
defensor da propriedade, os inconformistas de boina e barbicha guerrilheira; as
moças o veem com flores na mão, as matronas como genro trabalhador e rico. Quanto
a Muqaddas, se existiu, parece não ver nem se importar.
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