quinta-feira, 26 de setembro de 2013

26 de Setembro

O Linguista em seu Labirinto

A [não pouco estranha] história de Abdullaeva Behruz começou hoje [dizem] no ano de 1701 dos hereges. E começou-a dobrando uma esquina [na esquina não havia símbolos mágicos, sinagogas ocultas, seitas canibalísticas ou mesmo um bordel símbolo do mal – apenas uma sonolenta peixaria, o que (para os patriotas) cobre a história de encantadora banalidade].

Olhou para trás. E viu as costas de um rapaz de seus 14 anos que, tendo dobrado à esquerda [enquanto Abdullaeva escolhera a direita] se afastava. Parou, o rapaz também. O rapaz olhava para trás – percebeu: ele era ele, dois.

Continuou e na próxima esquina virou-se e viu outro rapaz, na verdade o mesmo [mas era outro] que também fizera uma escolha diferente.

E assim na próxima, e depois na outra. A chegar a casa assustou parentes, madrinhas e conhecidos ao abrir a boca – e dela saíram sons de um exotismo que um vizinho viajado pensou reconhecer: era um dialeto siamês do malaio.

Abdullaeva entendeu: por alguma razão os deuses [se os deuses existissem] deram a ele a capacidade de se dividir. E cada pedaço dele sabia uma língua. Abdullaeva [bradam seus entusiastas] aprendeu 7.777 línguas [outros dizem que sabia 11.112]. Quanto à história, o linguista às vezes calava sobre ela, às vezes dizia que era falsa e que, para aprender muitas línguas era preciso estudar meio século e 88 dias – método que [compreensivelmente] não teve muitos seguidores.

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