terça-feira, 19 de novembro de 2013

19 de Novembro

Da guerra de sempre

Durante 999 anos Amhitar combateu os Bárbaros [e a simetria do número não deixa de causar suspeitas]. Não que esse combate fosse contínuo: não foram poucos os decênios [ou séculos] em que paxás e xeques sequer se referissem aos Gulkahyos [assim eram chamados], para que logo depois surgissem como ameaça. Casamatas eram construídas, soldados eram convocados, manobras se faziam, sentinelas desabavam de sono nas ameias – e os Bárbaros [ou a presença deles nos discursos] sumia.

Antes de sumirem [no entanto] tropas retornavam de alguma batalha a dois mil quilômetros com bandeiras inimigas [na verdade trapos que alguns (sem coragem de dizê-lo) assemelhavam a estopas]. As histórias de massacres e estupros do cruel inimigo e da vitória final de nossas tropas ocorriam não sem certa monotonia.

A oposição [sempre há uma] é brutal: os Bárbaros não existiam. Sua finalidade única era promover generais e enriquecer empreiteiros de fortes e estradas. A própria estupidez do nome seria prova: Gulkahyo [no quinto subdialeto Khazyr] significaria Os que chocam galinhas.

Os patriotas contestam: para eles a aparente tolice de tal nome é mais uma prova, pois Bárbaros são estranhos, e nada mais estranho que chocar uma galinha ao invés de um ovo [como acontece nos países civilizados].

Esse argumento [de maneira não de todo injustificada] é tido por pouco convincente.

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