quinta-feira, 21 de novembro de 2013

21 de Novembro

O Esquecedor

O Destino [cuja existência é objeto de debate] devolveu o dom da memória hoje em 1866 a Sunef Muniza O Olvidador, e este fato [dizem não sem dramaticidade] constituiu a [única porém definitiva] tragédia de sua vida.

Sunef esquecia. Na infância isso lhe causou surras – quando entrava em portas de outras famílias [pois esquecia a própria casa] ou balbuciava como bebê [pois esquecia a linguagem]. As surras [é verdade] não faziam efeito pois ele não as lembrava.

Tratada alternadamente como possessão ou doença, a sua característica [pois acabou por tomar esse nome asséptico] evoluiu para certa lógica. Sunef não olvidava tudo. Podia perder-se por horas [até algum conhecido o encontrar] mas à sua mente vinha o prazer que tivera do primeiro banho de bica d´água, com cinco meses, dezessete dias e nove minutos [e era ele quem lembrava esta tão precisa data].

Não poucos perceberam que para ele o tempo patinava: com 17 anos parecia ter 12, e com 51 semelhava 30. A explicação óbvia – Sunef vivia em um Paraíso particular, não porque coisas más não ocorressem com ele mas porque ele as esquecia. [Até hoje se discute se tinha algum controle sobre sua amnésia ou se a mesma era um dom natural].

Discute-se a irrelevância de saber como Sunef recuperou sua memória, e as versões vão desde clarão dos céus até bordoada. Daquele momento em diante [no entanto] começou a envelhecer e se tornou um homem comum. [Só o Sunef desmemoriado se celebra nestas Efemérides].

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