O Esquecedor
O Destino [cuja existência é
objeto de debate] devolveu o dom da memória hoje em 1866 a Sunef Muniza O Olvidador, e este fato [dizem não sem dramaticidade]
constituiu a [única porém definitiva] tragédia de sua vida.
Sunef esquecia. Na infância isso
lhe causou surras – quando entrava em portas de outras famílias [pois esquecia
a própria casa] ou balbuciava como bebê [pois esquecia a linguagem]. As surras [é
verdade] não faziam efeito pois ele não as lembrava.
Tratada alternadamente como possessão
ou doença, a sua característica [pois acabou por tomar esse nome asséptico] evoluiu
para certa lógica. Sunef não olvidava tudo. Podia perder-se por horas [até algum
conhecido o encontrar] mas à sua mente vinha o prazer que tivera do primeiro
banho de bica d´água, com cinco meses, dezessete dias e nove minutos [e era ele
quem lembrava esta tão precisa data].
Não poucos perceberam que para ele
o tempo patinava: com 17 anos parecia ter 12, e com 51 semelhava 30. A explicação
óbvia – Sunef vivia em um Paraíso particular, não porque coisas más não
ocorressem com ele mas porque ele as esquecia. [Até hoje se discute se tinha
algum controle sobre sua amnésia ou se a mesma era um dom natural].
Discute-se a irrelevância de saber
como Sunef recuperou sua memória, e as versões vão desde clarão dos céus até
bordoada. Daquele momento em diante [no entanto] começou a envelhecer e se
tornou um homem comum. [Só o Sunef desmemoriado se celebra nestas Efemérides].
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