O Cientista
A Ciência [e também (dizem) o
chauvinismo amhitariano] implantou no país um antecessor injustiçado: Kyndal
Shavkat, o Lavoisier de Amhitar. [Os
verdadeiros patriotas detestam isso – Lavoisier é que seria o Kyndal da França].
O cientista pulou para o anedotário:
a [esperável] juba de cabelos brancos, a barba a qual [dizem] enrolava para que
não entrasse nos tubos de ensaio. A sua principal contribuição [estabelecida
sem nenhuma base factual como tendo sido feita hoje em 1698] foi modificar a
visão da química amhitariana. Antes, velhos sábios [eles sempre existem]
escreveram [em pedra] a fixidez absoluta de todos os elementos. Nada mudava [e
a visão de um Heráclito de que Tudo Muda para eles teria soado absurda]. Tal [antiga]
visão gerava não poucos problemas principalmente de ordem linguística: durante
séculos o poder científico [com sucesso limitado] lutou para que as palavras pedra e areia fossem uma só [já que a areia seria só pedra moída].
Kyndal levou [não sem algum
exagero] a questão para o polo oposto: tudo muda, e ao mudar, nada tem em comum
não só com o que foi mas com os demais. O químico [como os demais amhitarianos]
tinha horror à ideia de infinito, por isso advogava que o número de elementos
químicos correspondia ao número de coisas que vemos e sentimos: assim, uma
pedra branca é um elemento, uma pedra preta é outro. Embora não deixe de conter
sua verdade, tal conceito obteve pouco sucesso mundial e o Cientista só é
celebrado em Amhitar.
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