Para o Céu
E Utkirbek Lennon, às vinte horas
e trinta e seis minutos do dia de hoje do ano da graça de 1976 [do calendário
herege] viu, observou, sentiu e até percorreu uns bons milhares de quilômetros
de uma Escada para o Céu. [As acusações de plágio a certa de banda de rock são
indevidas, pois, no momento, Utkirbek jura que não lembrava a canção Stairway to Heaven – como, aliás, costumava
esquecer muita coisa].
Ao primeiro [e talvez único autêntico]
hippie de Amhitar não se pode assestar
as acusações de estar além de Bagdá – pois, significativamente, a aparição se
deu quando Utkirbek [tomado de certa iluminação pós-Budista] decidira que o
caminho para o Nirvana era a água – e havia já uns bons três meses não ingeria
nada que não fosse inócuo, insípido e inodoro.
A Escada não lhe apareceu no meio
do deserto – sendo de resto difícil dizer onde lhe apareceu, já que o profeta
da contracultura às vezes se jurava no Polo Norte para descobrir que se
encontrava em uma quitinete infecta em Calcutá. Não se parecia com nenhum delírio
habitual de escada, pois, para começar, tinha corrimãos [onde já se viu escada
mística com banais corrimãos?]. Anjos não o seguiram. Nenhuma bela garota o
esperava no alto. Uma capa de nuvens impediu logo a visão da paisagem abaixo. A
aventura terminou melancolicamente, com ele voltando por puro tédio daquela
aventura chata.
Utkirbek concluiu então que A Água causa perigosos delírios – e voltou
à conhecida química de sempre.
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