Quase Mil e Uma Amhitares
As Noites de Amhitar não eram Mil
[estimativas não inteiramente livres de pessimismo afirmam não passar de
cinquenta]. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: a coletânea de histórias fantásticas
de Amhitar [que permaneceu sem nome até sua tradução para o Bengali moderno e
sua publicação hoje em 1827] no início numera os episódios. Depois a ordem se
dissolve mas semiólogos [não sem paciência] chegaram à quantidade [ainda significativa]
de 333. A necessidade de um título vendável levou o editor a rotular o volume
de Os Dias Fantásticos de Amhitar.
Não os 333 Dias Fantásticos – ao orgulho [para não dizer ao machismo] amhitariano
repugna qualquer comparação com uma tal de Mil e Uma Noites de uma tal Arábia [é
assim que nos bares de Shmaerkaant se referem a tal obra, entre dentes]. A razão
[dizem] é que sem infidelidade não existiria Sultão, nem Sherazade, nem metade
[em uma estimativa tímida] das histórias que ganharam o mundo.
Evitando as anedotas de mulheres
de gênios, mulheres de sultões, mulheres de vizires e até mulheres de peixeiros
todas diuturnamente empenhadas na nobre arte da chifrança do marido [e que enchem
a boca de Sherazade e os ouvidos do Sultão] a coletânea amhitariana sofre do terrível
mal da monotonia, o que, se a torna desconhecida internacionalmente, coloca-a
mais autenticamente como nacional, por ser Amhitar a grande pátria do ramerrão
diário. [Evidentemente são os eternos críticos que o dizem].
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