Não existe esse País
O Atlas das Sociedades Inexistentes [publicado em Shmarkant hoje em
1911] posiciona [de maneira menos que explicável] a própria Amhitar como Não-Real.
[Tal fato (compreensivelmente) arrancou represálias de índole nacionalista,
desde um corte de cabelos forçado de um dos subeditores da obra (o qual teve de
fugir para a Terra dos Kazaks) até
duas sóbrias moções de repúdio, uma no mesmo ano, da (já decadente) Academia de Ciências de Amhitar e outra
(três décadas mais tarde) da Academia
Soviético-Proletária da Ásia Central].
E de fato [dizem] não era para
tanto. A inofensiva obra sem crédito de autor [embora o adjetivo longe esteja
de ser unânime] listava a terra amhitariana como uma das civilizações
efetivamente existentes, mas apenas na cabeça de seus criadores, ou de um único
criador [ou ocioso sem ter o que fazer – a redundância se encontra na página
CXCLX do livro]. Embora isso em princípio dê razão aos patriotas [de que o tal
Atlas acusa o país de não existir] , mitiga-se ao se ler que seu conceito é bem
mais amplo: os Estados Unidos [a Terra da Liberdade] também constam como país
que só existiu na imaginação de Jefferson e Washington e mais meia dúzia, já
que naquele país [afirmam os anônimos autores não sem certo progressismo] nunca
existiu real liberdade.
A dubiedade do Atlas garante sua
permanência nas datas da pátria – e também debates [que enchem os jornais
sempre que as notícias rareiam] sobre a efetiva existência nacional.
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