A [i]lógica do Tempo
Zitora Zarfar conquistou a imortalidade [e também certa (talvez injusta) fama de imbecil] ao colocar hoje em 1677 dos hereges [93 do mês Morhaxxor do ano 22 do calendário Khazyr] o
primeiro relógio capaz de contar a passagem do tempo de acordo com tal seita amhitariana.
Não muito original – não era a primeira vez que alguém tentava um mecanismo baseado
na força do vento. [Vizinhos riam de sua forma meio abutre meio urso de metal].
A lógica [ou melhor, a falta
dela] diferenciava a engenhoca de Zitora – pois os seus concorrentes [movidos
por uma (talvez compreensível) nostalgia do sentido] montavam seus relógios
baseados em polias, alavancas e pesos que, bem azeitados, davam regularidade ao
movimento e [consequentemente] ao tempo.
Os Khazyr [no entanto] abominavam
a lógica [que eles (dizem) denominavam Mahgrik-ul-Ghaazudh,
a Cobra Negra]. Seu calendário [e
suas horas] variavam de acordo com uma tabela cujo único sentido [concluíram não
poucos] era falta de um. Uma hora Khazyr podia durar de três a 339 minutos da
hora cristã, sem que essa recorrência de números três implicasse qualquer regularidade.
Zitora reproduziu essa lógica-sem-lógica ao colocar o vento como propulsor e
regulador - nos furacões o tempo era mais rápido. Nas calmarias, não passava.
Zitora Zarfar morreu com 107
anos, onze meses e nove dias [mas como tal contagem se deu no calendário da
seita, ninguém sabe com exatidão o que significa].
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